julio 02, 2009

Deixar-se Amar

Continuando o assunto do Espelho, ou auto-estima, da semana passada, decidi compartilhar este texto sublime e didático com vocês. Refletir é viver.
“Dizem os antigos sábios do Zen que para compreender a realidade, às vezes é necessário pensá-la ao revés: estamos tão condicionados a olhar as coisas de determinada maneira, que os outros pontos de vista ficam sem ser explorados. E no não explorado poderia estar a verdade!

Vamos com este espírito até o tema da auto-apreciação. Quando abordamos essa idéia, o primeiro que costuma surgir é que um "deveria" aprender a querer a esse que um é em sua profundidade; logo que rechaçar-se durante anos, se auto-exigir, depreciar-se, um se dá conta de que necessita lograr fazer as pazes consigo. Então busca estabelecer certa corrente afetiva desde "ESSE," que se é, permanecendo com frequência na luta entre desestimar-lo e aceitá-lo... Ou seja: "Me seria mais fácil aceitar-me a mim mesmo... se não fosse assim, como sou!". Que paradoxo...

Como seria pensar este assunto ao revés? A princípio, vislumbrando que o que chamamos "Si Mesmo" não é nossa identidade superficial, condicionada por todo o aprendido, se não nossa identidade mais recôndita: aquilo que éramos ainda antes de nascer e que seguiremos sendo ainda depois de morrer. Uma porção do Todo encarnada em forma humana.

Nossa Essência. Nosso Centro.

Durante um longo período da vida vivemos nos subúrbios desse Centro (ou as vezes diretamente em outro país interior!); e quando buscamos exercer a famosa "auto-estima" termina sendo... o ego tratando de amar ao ego: pura superfície! Assim, essa "auto-estima" se despenteia ao mais mínimo vento, se despluma ante qualquer crítica ou rechaço do ambiente... E então? Então talvez se trate de algo mais profundo, pois todo amor unilateral está destinado à frustração. Ou seja: não é só trabalhar para "nos querer e aceitar-nos" (desde a periferia até o Centro de si) se não também... deixar-nos amar por nosso Si Mesmo! Ainda que pareça estranho: desde o Centro até a periferia. Vejamos o que é o que isto significa...

O poeta Sufi Rumi (desde o ano 1200) dizia que "o melhor Amor é o Amor sem objeto": o Amor em si, como matéria prima, ainda antes de depositar-se em nada nem em ninguém. Sua fonte está nesse Centro com o qual necessitamos restabelecer contato (como o tivemos quando éramos crianças, mas que perdemos ao crer-nos ser o da periferia, o condicionado... o irreal!). Rumi perguntava: "Te visitas a ti mesmo com regularidade?". Desde esta visão invertida, a tarefa é nos dispor não só a "nos querer e aceitar-nos", se não também a RECEBER a afetividade que pode IRRADIAR ATÉ NÓS nosso Si Mesmo. Ele valora os imperfeitos esforços humanos que tenhas feito para se re-contatar, -a cegas e sem guia-... difícil tarefa que muitíssimos nem se quer tentam. Te convidamos a explorar, pouco a pouco, como seria deixar-te amar por essa porção do Todo que te habita; deixar-te ajudar por ISSO, deixar-te acompanhar por ELE. Talvez sempre quis ser teu amigo, mas não tenha podido receber seu Amor... só porque não o sabias! Agora te chegou esta notícia. Damos-te nós e queremos que também a dê o magnífico poeta antilhano Derek Walcott (Premio Nobel de Literatura em 1992):

O AMOR DEPOIS DO AMOR



O tempo virá
quando, com grande alegria,
tu saudarás a ti mesmo
que chega a tua porta, em teu espelho,
e cada um sorrirá a bem-vinda do outro,
e dirá: ‘ Senta-te aqui. Come.’

Seguirás amando ao estranho que foi tu mesmo.
Oferece vinho. Oferece pão. Devolve teu amor
a ti mesmo, ao estranho que te amou
toda tua vida, a quem não conheceu
para conhecer a outro coração
que te conhece de memória.

Recolhe as cartas do escritório,
as fotografias, as desesperadas linhas,
desprega tua imagem do espelho.
Senta-te. Celebra a vida. “


Autores: Virginia Gawel & Eduardo Sosa, Diretores do Centro Transpessoal de Buenos Aires, http://pensamientosensible.blogspot.com/ Permitida sua reprodução citando esta fonte.

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