diciembre 18, 2011

Cansei de ser chata, rasa. Vamos mais profundo!










Andei, vazei, esvaziei e voltei. Versão mais profunda, 12ponto12.
Como sempre chega o final do ano e eu venho me despedir de uma etapa para iniciar outra junto ao blog. Creio que alegria e humor são partes fundamentais da vida e hoje em dia tão necessárias, então decidi utilizá-los aqui para que nossas conversas sejam mais claras, iluminadas e leves, assim como desejo que seja o novo ano que se aproxima para todos vocês.

Estou gestando este texto há uns 3 ou 4 meses, sem brincadeira. Li muito, pesquisei, ouvi o mundo, mas o texto não nascia. Ia e vinha na minha mente, pois acho que são assuntos muito importantes e quero trazê-los para o foco do consumo consciente e não me encontrava para finalizá-lo. Acho que agora vai.

Quero tratar faz algum tempo de como se formam paradigmas, que a moda impõe e o mundo corre atrás, geralmente sem pensar ou refletir. Da obstinação da indústria da moda pelo luxo, ou novo (como assim novo?) luxo em contraponto com a “fast fashion” (moda rápida).
Primeiramente pensei em separá-los, mas creio que achei o fio da meada ao juntar tudo. Vamos lá.

Hoje vou, sobre tudo, contar histórias.
No início da moda, as roupas eram feitas sob medida, a chamada “haute couture” (alta costura) o que encarecia as peças, por serem personalizadas, exclusivas e sem grande escala (feitas uma a uma à mão) com materiais nobres também produzidos em pequena quantidade em geral vindos de terras distantes, mas o caimento e elegância proporcionada são incomparáveis. Verdadeiras obras de arte!
Aqui faço um parêntese: a roupa sob medida prioriza as proporções de cada pessoa o que automaticamente favorece cada corpo e volume em particular, valorizando seu estilo próprio. Ou seja, a roupa da costureira é um luxo, porque só você tem e é sob sua medida.

Continuando, com a recessão causada pela segunda Guerra e a necessidade de aquecimento econômico, surgiu a “pret-a-portêr” ou “ready to wear”, a famosa roupa pronta para uso, pois não necessitava provas nem ajustes personalizados, o que possibilita a produção em grande escala, reduzindo custos e tempo de produção. Muitas peças são produzidas em um curto espaço de tempo e os materiais, também produzidos em larga escala e mais acessíveis e, diga-se de passagem, sem tanta qualidade. Nesta produção em massa, que gerou uma criação massificada de moda e estilos, se desmonta o estilo pessoal.

Se me acompanha até aqui, entendeu que a partir desta jogada mercadológica a indústria da moda deixou de ter um estilo para produzir paradigmas, ou padrões a serem consumidos. O corpo particular torna-se a partir daqui um volume: pequeno ou médio ou grande. Quando muito, extragrande ou extra pequeno. As curvas e proporções individuais se tornam um padrão massificado. A elegância é massificada e em alguns casos, muito questionável.

Bacana podermos consumir mais por menos. Muito mais, aliás, já que a alta produção precisa escoar e dar continuidade a fabricação. Uma cadeia produtiva da moda e consumo que não podem mais parar, custe o que custar o progresso precisa continuar. Nasce o consumo compulsivo.
Os industriais de matérias primas, principalmente de fios (tecelagem) e pigmentos têxteis, começam a ditar o que se deve produzir para que girem os seus produtos em particular. Por exemplo, o pigmento preto está em alta no estoque porque as cores vivas foram tendência na última temporada, agora então terei de vender preto e cores que o empreguem, logo está composta a cartela “must have” do momento.  Com as fibras têxteis passa o mesmo. E isto se reflete inclusive nos formatos das roupas. Se numa estação a silueta é justa ao corpo e sobraram muitos fios, que produzem metros excedentes de tecidos, minha estação seguinte bem provavelmente terá roupas amplas, ou as ditas “over sized”. E se numa estação há muitos artigos de fibras naturais, as sintéticas que ficaram em estoque, serão potencialmente a tendência da próxima.
Lembram que as modas vão e vêm?
Pensaram que os estilistas eram os super criadores do mundo fashion, hãn? Nem tanto, nem tanto.
O Comitê Internacional da Moda que aglutina os maiores industriais e produtores de matérias primas no mundo, são sem dúvida os primeiros desta fila.

Agora que já falamos dos bastidores da criação e os padrões de moda impostos no mercado, vamos comentar os paradigmas.  Penso que está claro que seguir a tendência de moda é aceitar um padrão estabelecido pelo mercado de consumo que, nem sempre, foi pensado para realmente valorizar sua beleza e estilo pessoal. E nós, que somos os consumidores, pagamos por isto e os aceitamos.
E por que será?
Creio que vários fatores nos levam a isto. O principal é o bombardeio que sofremos através das mídias que nos convencem de um “padrão de beleza” de ponta ou “global”, somado ao nosso desconhecimento do que realmente me veste e faz bem, e uma ingenuidade que nos leva a consumir compulsivamente. Estamos reagindo ao invés de agir. Nós temos uma livre escolha, mas me parece que estamos anestesiados por uma imensa falta de informação que não nos deixa pensar nem agir. Devemos criar um modo mais amplo de pensar e atuar.

Tudo parece tão lindo e maravilhoso! Só parece.
Devemos pensar em por que e para que consumir tanto. Que cada vez que consumo, invisto em uma cadeia produtiva que em sua maioria não é saudável. Seja por poluir águas, ares, por empregar mão de obra sem condições adequadas, por não ser sustentável, o que seja, estou conivente com um sistema prejudicial ao planeta, à vida.

O padrão fast fashion foi uma forma de acelerar o processo de consumo que estava sofrendo uma baixa e um aquecimento rápido, mesmo sendo forçado pelo mercado, poderia reverter isto. E reverteu sim, somente para os fashionistas.
Porque no geral este tipo de estratégia é muito prejudicial. A mão de obra empregada em sua maioria é semi-escrava por conta dos prazos a serem cumpridos. A poluição causada por este processo é sem fim. Ou seja, nada sustentável, só para ter mais roupa no guarda-roupas a custo reduzido?
O custo na realidade é altíssimo e extravagante!
Porém de alguma forma a indústria da moda conseguiu embutir na cabeça geral da nação de que por ser fast, você também tem de ser veloz em comprar, porque se não acaba! “E como é que se faz para viver sem aquela peça X, meu Deus?”
Me poupem de responder a pergunta acima.
O que te peço é: raciocine! Como dizem por aí: realiza!
Você acha mesmo que deve ter aquela peça no seu guarda-roupa? Okay ela é uma pechincha, mas tem qualidade? E muito além disto, vale pagar pelo sofrimento alheio para ter esta peça no seu corpo? E estimular um sistema prejudicial? Realiza#2!

Agora vamos ao luxo.
O luxo na era dos reis era luxo. Todos queriam o luxo que vinha de terras quase inacessíveis e custava o olho da cara, pois simbolizava literalmente a realeza, o topo da hierarquia. Brocados da China, Sedas da Índia, tudo uma maravilha e a peso de ouro. Veio a massificação da moda, o estilista famoso lança hoje e a China copia igualzinho amanhã... O luxo exclusivo tornou-se artigo de luxo. Passou a ser muitas vezes, tom arrogante e pretensioso. E acorda, pois a monarquia acabou faz tempo, a que ficou é fachada de ditadura.
Então, lá vem a indústria da moda outra vez: agora temos o novo luxo! Aquele que é igual, mas com outros nomes e fachadas se torna quase inacessível, como se voltássemos aos tempos dos reis, e o paradigma agora é:
“Se você comprar esta pecinha, que custa dois olhos da sua cara mais meio nariz, você se sentirá e aparentará ser o REI do mundo!” De lambuja você leva e incorpora a sensação de que todos te respeitam mais, te obedecem mais e te amam mais!
Ora por favor, vai cair nessa? Vai se esquecer que neste processo provavelmente estão envolvidas formas de produção nem sempre sustentáveis e corretas? E crer que para ser “mais” precisa disto? Realiza#3!

Minha dica é: goste mais de você. Goste mais das pessoas. Goste mais do mundo!
Roupa é como obra de arte, ela tem de te fazer feliz e fazer brilhar seus olhos. Não porque o mercado ou a vendedora diz, mas porque realmente te cai bem e faz você se sentir mais bonita. Mais amável em si, e não mais amada pelo olhar alheio.
Digo que meu guarda-roupa contém obras de arte e não apenas roupas. Porque tenho coisas ali, que foram feitas com muito esmero. Na medida e proporção do meu corpo. Mesmo as compradas em lojas ou brechós. (SIM, eu compro e muito em brechó! Farei um post só sobre isto.) Porque conheço as minhas proporções, sei o que me cai bem e conheço as marcas, sei dos cuidados empregados nas peças, porque fica impresso na alma da roupa.

Vista sua alma, não apenas seu corpo!

Este é meu desejo para seu novo ano. Que em 2012, você possa vestir bem mais que seu corpo, possa preencher sua alma de alegrias, felicidades e graças. E com isto contagiar e ser contagiada pelo mesmo impulso amoroso por todos a sua volta. Um impulso Essencial de Vida!


E agora um listão de presentes:
1.      Um vídeo que faz parte do excelente filme “Janela da Alma”, recomendo, pois trata muito sobre paradigmas sociais. Aqui fica a parte do mestre José Saramago, que resume essencialmente o que quero que entendam: (atente bem a partir dos 4 minutos) 


2.      Como sempre falo e repito por aqui: Já parou pra pensar?
Para um feliz Natal alegre e divertido, uma visão de como se pode usar moda e ter estilo sem ser clichê ou uma vitrine ambulante, mas como obra de arte. Este vídeo da Cris Guerra me estimulou muito. E eu só agradeço sua existência! Veja depois dele, sobre a vida e a virada de vida desta guria. É muito motivador, ela é uma guerreira e vencedora! Dá um exemplo de vida. Inspire-se!



3.      María Antonieta Solórzano nos conta porque consumimos tanto e que é possível reverter isto, um vídeo sobre mudança de paradigma.



4.      Os paradigmas vistos pela espiritualidade por Lama Padma Samten, que nos fala sobre o mundo interno e a superação da ingenuidade.



5.      Um vídeo sobre a (real) História dos Cosméticos, que é um alerta muito importante que não só desconstruiu paradigmas de beleza, mas me chocou! NÃO DEIXE DE VER.



6.      E por último uma visão de como caminham as coisas para 2012. É um teaser de um filme a ser lançado que não deve deixar de se ver. É polêmico sim, mas devemos nos informar e entender melhor a realidade do mundo atual.




7.      AH! E não posso deixar de comentar e agradecer! Como vocês todos sabem, um blog vive e revive de seus leitores e comentários, se não fico achando que falo sozinha! Foi muito importante a participação de vocês todos, mas especialmente gostaria de agradecer a Anay Nascimento, uma nova leitora que se tornou amiga e a maior incentivadora deste blog. Muito grata Anay querida, que seu 2012 seja iluminado e frutífero, se é que me entende. :)  Para todos vocês, um lindo Natal sustentável e alegre! 




Beijos para todos, Boas Festas, au revoir, até já. _/\_

2 comentarios:

  1. Muito bacana, Nannie! Vejo muita produção em 2012. O raciocício está completo \o/ Muitos beijos. Angela

    ResponderEliminar
  2. Querida, adorei "aparecer" o seu post viu? Em 2012 vamos trocar muitas idéias ainda, se Deus quiser!!!!

    Mas, por falar no post especificamente, na minha família temos uma prática de trocar roupas entre as primas. Quando estamos de saco cheio de alguma produção nos telefonamos e vemos se haveria a possibilidade de um "rodízio" naquela semana ou naquele mês. Então fazemos as trocas e depois devolvemos (ou não, depende do que ficou combinado). O melhor é quando as "doações" chegam sem esperar... mas aí ficamos meio que na obrigação de arrumarmos alguma peça para compensar aquela que ganhamos. É tipo assim: se estou colocando uma peça nova no armário, alguma velha tem q sair para dar o lugar.... até pq não tenho muito espaço em casa para guardar.

    Minhas roupas de grávida foram 50% doadas de outras grávidas da família e as do meu bebê tb. Tenho roupinhas até ele completar 1 ano.

    Ahhhh... claro que compramos peças novas também, né? Mas em número BEM reduzido. Em compensação, a sensação de estar usando algo diferente é constante.

    ResponderEliminar